Com o lançamento do recordista 007 – Sem Tempo Para Morrer, encerrou-se o ciclo de Daniel Craig no papel do agente secreto mais famoso do mundo. Foram quinze anos e vários tabus quebrados: foi o primeiro Bond loiro, foi o primeiro a trabalhar para uma chefe mulher, e também foi o primeiro a desenvolver relações duradouras.
Sinal dos tempos? Certamente muita coisa mudou desde que Ian Fleming escreveu o primeiro livro de Bond, Cassino Royale, há exatos 70 anos. Porém, se a franquia cinematográfica mudou para se adaptar às novas relações do mundo moderno, há coisas que se mantêm 100% Bond, desde o primeiro livro, ou primeiro filme. Como, por exemplo, o próprio Cassino Royale e seu icônico jogo de poker.
Hoje em dia, ninguém precisa viajar para um país estrangeiro para se divertir em um cassino, já que existem inúmeras versões virtuais com todos os títulos clássicos, incluindo a roleta ou o poker. Em 007 – Os Diamantes São Eternos, o jogo de roleta toma um papel de destaque e o agente secreto até dá nome a uma das estratégias desse jogo. E aliás, o filme 007 – Cassino Royale tem forte influência da modalidade online que, na época (2006), vivia um boom, e a pokermania foi incorporada.
Na história, Bond viaja para Montenegro para disputar in loco um torneio milionário contra o vilão Le Chiffre e outros tipos suspeitos. O jogo, porém, acontece com as regras do Texas Hold’em, com duas cartas por jogador e três cartas comuns. Certamente não era a modalidade original no livro de Fleming, que provavelmente usava o five-card stud.
A disputa em Montenegro aproxima Bond de Felix Leiter, que será personagem recorrente nos filmes seguintes. Felix é o “pato” da mesa mas, assim como Bond, precisa parar Le Chiffre. Novamente, o poker online poderia ter ajudado, já que as plataformas oferecem rodadas de treino grátis para os jogadores aprenderem as manhas do jogo antes de se aventurarem em uma mesa. Mas aparentemente a CIA tem seus próprios métodos e, quando eles falham, têm dinheiro.
Por fim, a partida entre Bond e Le Chiffre traz um duelo de caras e bocas, e também provocações sarcásticas, algo que é puro suco de 007. Assim, a viagem está justificada, e com ela vem a oportunidade de mostrar um belo cenário.
Fleming imaginou o cassino em um lugar misterioso, em um país europeu não muito conhecido, nem muito afeito às leis, mas de belas paisagens. O diretor Martin Campbell apresenta o local com uma bela tomada aérea e o letreiro “Montenegro”. Porém a verdadeira Montenegro, uma das antigas repúblicas iugoslavas, está a centenas de quilômetros de onde o filme foi realmente gravado. A cidade que aparece vista do alto é, na verdade, Loket, um pequeno vilarejo na República Tcheca, a cerca de 120km de Praga.
Já as demais cenas da falsa Montenegro foram gravadas em outra cidade tcheca – Karlovy Vary, uma estância termal não muito longe de Loket. A estação de trem por onde Bond e Vesper chegam é, na verdade, uma das colunatas da cidade, uma estrutura que protege as fontes de água quente. Outra colunata, essa de madeira, aparece quando são recebidos por Mathis.
O edifício do cassino, que surge em algumas versões do pôster do filme (e na capa do DVD, porque afinal era 2006), também está ligado à vocação termal da cidade. O edifício é conhecido como o Balneário nº1 e era um local público para banhos e terapias na época do império austro-húngaro. O ar aristocrático caiu como uma luva na ideia de um cassino clássico, e a equipe de cenografia não teve muito trabalho para transformar a estrutura no cenário necessário.
Já o Hotel Splendid, onde Bond e Vesper se hospedam, é mesmo um hotel. Porém, na vida real tem outro nome: Grand Hotel Pupp, também localizado em Karlovy Vary, a 100m do balneário-cassino. A rotunda na entrada, onde 007 estaciona seu sempre impecável carrão, hoje virou uma espécie de calçada da fama, com placas comemorativas aos hóspedes ilustres que passaram por lá. E sim, há uma para Daniel Craig. Na época ele era um aspirante a James Bond. Hoje, é um 007 consagrado.
